85% dos pacientes em parada cardíaca sobrevivem após desfibrilador 

Jogador de futebol uruguaio, Juan Izquierdo, do Nacional, teve a morte anunciada cinco dias depois de parada cardíaca súbita. Equipe médica, que socorreu o atleta em campo, informa que não utilizou desfibrilador externo automático (DEA), contrariando protocolo da FIFA

Por Gabriela Machado Prado, cardiologista

Qualquer jogador de futebol que desmaie e não responda, especialmente se o fato ocorrer sem contato com outro jogador, deve ser considerado um caso de parada cardíaca súbita (PSC), até que se prove o contrário. A afirmação é do estudo de consenso publicado há uma década por pesquisadores da Suíça, África do Sul, Estados Unidos, Reino Unido e Brasil na revista científica British Journal of Sports Medicine  (BJSM). A proposta do trabalho foi estabelecer um padrão global de cuidados de emergência nos campos de futebol, órgão máximo do futebol, para prevenir a morte cardíaca súbita. 

Próximo ao final do jogo entre São Paulo e Nacional, no Morumbis, na noite de 22 de agosto, o zagueiro uruguaio Juan Izquierdo, da equipe de Montevidéu, deu alguns passos de lado, sem aparente controle do corpo, e caiu no gramado. Não houve qualquer contato e, portanto, não seria o caso de concussão cerebral. Porém, ao invés de se nortear pelo protocolo FIFA, a equipe médica seguiu por outro caminho, conforme declarações oficiais de André Pinelli, médico oficial da Conmebol. 

Segundo ele, os procedimentos de parada cardiorrespiratória não foram iniciados pelo fato de o atleta respirar e ter pulso no momento. Também argumentou que uma pessoa com um quadro convulsivo, como aparentava ser o caso de Izquierdo, a causa pode ser cardiológica ou neurológica. Por sua vez, não foi seguida a recomendação da FIFA, que determina que não se deve esperar o fim da respiração do paciente para iniciar o procedimento com desfibrilador externo automático (DEA).

Apresentar convulsão também é uma condição prevista no artigo publicado na BJSM. O documento diz que qualquer jogador de futebol que desmaie e apresente atividade semelhante à convulsão e/ou respiração agonizante deve também ser considerada como uma PSC. As compressões torácicas (o aperto com as mãos entrelaçadas sobre o peito) devem ser iniciadas imediatamente e continuadas até que o DEA seja levado ao jogador em colapso e possa ser aplicado para analisar o ritmo cardíaco. Essas compressões devem ser mantidas durante o transporte em ambulância. Cinco dias depois, foi anunciada a morte de Juan Izquierdo, aos 27 anos, por parada cardiorrespiratória associada à arritmia cardíaca.  

Outro estudo também publicado na BJSM, em 2020, por pesquisadores do Instituto de Esportes e Medicina Preventiva da Universidade de Saarland, na Alemanha, apresentou os dados de morte súbita, sobrevida de parada súbita e morte súbita traumática – entre jogadores de futebol durante o jogo ou até 1 hora depois da atividade – registrados no monitoramento de mídia (Meltwater), feito de 2014 a 2018. No período, foram relatados 617 jogadores com morte súbita, em 67 países. Desse total, 142 jogadores (23%) sobreviveram. Outro dado, para o qual também chamo a atenção, é que a ressuscitação cardiopulmonar (RCP) resultou em uma taxa de sobrevivência de 85% entre os que utilizaram desfibrilador externo automático (DEA), em comparação com 35% entre os que não utilizaram. Informação, baseada em evidência, precisa entrar em campo. 

Gabriela Machado Prado é cardiologista do Centro de Excelência em Medicina (CEM) e mestre em Medicina Cardiovascular pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.  

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